10.11.11

tentando conexões com respostas

Postado por 16 mulheres e 1/2 |

por Marília

Deixar fluir do coração.

A um tempinho penso em querer trocar idéias sobre nossos processos. Idéias mais profundas talvez.. de dança... de questões, de dúvidas, de inseguranças. Idéias de dentro, de fora e de todos os lados. Achei muito legal saber ontem, que vamos ter esse espaço nos últimos encontros.. e poder trocar, ouvir... ser ouvida.

Assim, fiquei com vontade de compartilhar minha experiência na Casa da Purpurina. Senti lá, uma continuação desse vídeo esquisito que um dia distante, saiu.



Antes de ir pra purpurina, já tinha visto algumas fotos da casa no facebook. E por eu estar cultivando um momento muito sensível na minha vida.... me fez querer me proteger pra ir lá, dançar (que é algo muito delicado pra mim). Precisava me proteger das energias dali. Daquele lugar cheio de marcas e vidas passadas.... de sujeiras e demolições ainda mal demolidas.

Simbólico.


E eu estava preparada. E fui... feliz.

Dessa vez não pra fazer perguntas... até porque entre esse vídeo e agora, já tive algumas respostas... mas fui pra ser/estar... habitar minha proteção, minha troca com aquele lugar.

E ficou claro pra mim mesma meu não lugar naquele lugar!
Ao mesmo tempo, também sou aquele lugar.... e todas aquelas marcas..
Transcendi.

gratidão.

23.10.11

Casa 382

Postado por 16 mulheres e 1/2 |



por Monica Lopes

Havia um tempo expandido, um tempo parado. Havia um abandono, lugar com coisas nos cantos. Havia algo de desconhecido, talvez por ser noite, algo de misterioso. Havia também uma tensão no ar.

Nós que já conhecíamos o lugar, mostramos o espaço, devido a buracos, espaços que estavam para cair, pisos não muito confiáveis para pisar. Nós guiávamos com lanternas e luzes a bateria. Havia novamente um conforto ao ver o espaço ocupado com tantas pessoas conhecidas, mas a tensão continuava.

Resolvi por reconhecer o espaço através de fios, desenhando o espaço e explorando cada detalhe, curva que não havia percebido antes. Com a noite, o espaço se mostrava de maneira diferente. Atravessei os espaços através dos fios e só assim pude reconhecer o corredor como um lugar novamente habitável - lugar antes centro das relações e atividades na comunidade das casinhas.

A minha vontade era de ficar parada, encostada nas paredes. Eu me sentia em outro tempo, havia uma suspensão no ar, uma temporalidade outra.

Ao entrar na casa me via em partes estilhaçadas pelos espelhos, que me figuravam como partes das inumeráveis facetas da minha personalidade. Olhava-me e não me reconhecia e isto era bom. Não me via como um todo uniforme, limpo, claro, unificado e íntegro. Via-me em partes conflitantes querendo se disparar para lugares infinitamente diferentes ao mesmo tempo. E esta era minha sina? Estar sempre dividida em partes heterogêneas que só me atrapalhavam seguir adiante, fluir? Isto me trazia um corpo-conflito, as vezes tortuoso e este se debatia no chão da sala da casa.

Na casa havia outros moradores. Havia uma moça que insistia em colocar galhos na cabeça e que ficava amarrada em meio aos fios do varal das fotos. Esta moça me instigava cada vez mais este corpo-conflito e me trazia impulsos corporais intensos. Ela vivia na cozinha, o lugar mais limpo da casa. Na cozinha ela tinha construído um varal de fotos e memórias. Havia também uma mulher que insistia em procurar incessantemente os buracos da casa e circundá-los marcando-os com carvão. Esta vivia circulando por toda a casa e não parava nunca. Não - minto! - apenas parando na parede em lugar característico em um canto na sala ou quando parava para fazer seus desenhos. A outra moradora vivia no quarto, o cômodo mais sombrio, onde ninguém tinha coragem de entrar, exceto quando ela estivesse dentro do mesmo a habitá-lo. Esta insistia em fazer silhuetas de corpos com pregos, com carvão, com tinta, com velas. Ficava dias inteiros, um dia após o outro, colocando vela por vela, prego por prego. Ela tinha também uma estranha obsessão por terra e ficava horas seguidas a mexer e se envolver na terra que existia no corredor em frente da casa. Eu residia em uma parte da sala, eu e meus inúmeros espelhos trincados. Lá eu ficava muitas horas do dia me olhando ou me quebrando em partes cada vez menores, era uma maneira de me deixar morrer. A outra parte da sala se convencionou um espaço de convivência geral, além de conter o lugar característico, o canto da parede - onde a mulher dos buracos permanecia determinados períodos do dia. Neste mesmo canto da sala a moça das silhuetas deixou os restos dos dois computadores, resultado de um dia de fúria desta moça que os destroçou a marteladas. Este dia foi um dia tenso para todas nós, eu fiquei completamente imóvel, ao ouvir os ruídos da quebra, era como se estivesse sendo quebrada por dentro e a partir deste dia a moça dos galhos criou uma certa fixação de medo pela moça das silhuetas.

A janela em casa era um lugar frequentado por todas, onde se espreguiçavam, se pinduravam, se jogavam, ou apenas se sentavam esperando o dia passar. Eu costumava cantar fados pindurada na janela. Nestas tardes ou noites eu cantarolava e sentia duas vozes me habitando, uma minha, e outra que não reconhecia. Eu gostava de ouvir esta outra voz.

A tensão no espaço era um contínuo. Naquela noite tinhamos convidados e estes passeavam pelo corredor e pelas casas. Eu me instigava com o som das coisas, ruídos, ou com o som do silêncio que teimava em se instaurar e que era doído de se ouvir. Comecei a cantar os fados, como sempre o fazia, e isto transportava imediatamente a tensão que estava fora para dentro de mim. E, por incrível que pareça, o ambiente se tornava mais calmo (do lado de fora de mim, claro!). Surgia um alívio no ar, uma sensação de suspensão do tempo, era um suspiro. Em oposição à minha sensação interna, que instalava rachaduras e emergia algo que me provocava, provocava a ir para o espaço de inúmeras maneiras jamais pensadas anteriormente.

Neste instante os ruídos me atraíam, entrava e saía da casa e ouvia, ouvia tudo. Comecei a saltar e me relacionar com a parede. Acima de mim, havia uma moça com grandes olhos, ela havia pindurado na janela seus olhos por um tempo, e descansava com gestos delicados na janela. Eu olhava o céu agora e via os prédios vizinhos, cheios de luzes, havia um respiro ali. Eu, em cima de uma pedra, respirava e olhava para o céu em pausa. Neste momento, deparei-me com uma mulher com cabeça de saco de papel, ela permanecia imóvel e reconhecia o espaço através de outros olhos. Havia muitas pessoas no corredor. Ao me mover mais um pouco encontrei-me com um homem com cabeça de capacete que se movia através de impulsos e giros e reconheci a moça das siluetas, lá no fundo do corredor, que estava novamente envolvida na terra, com um certo tipo de agitação e com gestualidades repentinas e ininterruptas. Ela havia encontrado uns buracos no corredor, onde continuava bem concentrada e interessada.

Por um impulso, corri novamente para casa, passei pela porta, entrei, a moça dos galhos estava lá obcecada com algo que não sei precisar, não parava de pisar no chão com força, e tinha um olhar enfurecido, determinado - parecia possuída de uma força estranha. Ao me aproximar senti uma necessidade brusca de quebrar os espelhos no chão com a marreta. Havia um alívio e um prazer naquele ato e em ver todos aqueles cacos espelhados pelo chão à minha frente. O som também aliviava algo que não sei explicar, talvez fosse ainda aquela tensão que eu falava desde o início. Eu estive lá, por não sei quanto tempo, na sala, com a moça dos galhos. Havia um conflito, um atrito. Ao ver-me quebrando os espelhos, ela esvaiu-se, derreteu-se, parecia que voltava a si, retornava de um mundo distante. E, voltava com aquele olhar delicado, conhecido e carinhoso. Quando menos esperava, ela começou a puxar meus cabelos, tornei-me bicho. O animal que estava nela transportou-se para mim, tornei-me bicho. Parecia que as coisas estavam mais calmas agora, ouvia murmúrios de conversa lá fora. Segui para fora da casa e encontrei-me com a moradora do quarto. Estava ela lá, na entrada da casa com cabelos no rosto. Aproximei-me, fiz gestos carinhosos e acariciei os seus cabelos. E depois, não sei bem porque comecei a puxar seus cabelos e fazê-la mover através destas puxadas. Ela fugia, eu retornava e fazia carinhos. Parecia-me que o bicho que estava na moça dos galhos - que foi se desfazendo e deixando galhos por todo o varal pindurados - entrou em mim e a inquietação que se figurava nela se estabeleceu dentro de mim.

Era hora de deixar o espaço. Uma coisa era certa: aquele lugar nunca mais seria o mesmo, nem aquelas pessoas que traziam agora consigo traços, rastros do que ficou inscrito naquela noite.



20.10.11

Impressões da Casa da Purpurina

Postado por 16 mulheres e 1/2 |

Por Andrea Mendonça

CASA DA PURPURINA Nº 382.


O medo de vestir meus galhos e ocupar o espaço das casinhas era real. Ansiedade. Um estado de excitação quase infantil. Os passos apressados e o silêncio eram guiados por uma lanterna minúscula. Quando entrei no ambiente me senti à vontade, como se estivesse retornado a minha casa, onde permaneci durante anos. Incontáveis. Finalmente consegui respirar. Estado de alívio. A repulsa aos animais rastejantes, aos espaços invisíveis e aos cantos escuros haviam desaparecido por alguns instantes.
Apresentava o espaço às pessoas que entravam pela primeira vez, e todos eram muito bem vindos. Ali tínhamos vizinhos. Intimidades. Um sofá rasgado. Casas vazias. E muitas memórias misturadas, de existências desconhecidas, memórias inventadas, as antigas misturadas ás memórias recentes. Memórias eram construídas a cada instante da ocupação. Construídas e destruídas. Construídas e destruídas.
O tempo dilatava-se. Expandido. Fato é que em casa o tempo passa de outra forma, ou melhor, nunca passa. Três horas correspondem a 30 minutos no espaço-tempo-casa-memória. E lá eu poderia permanecer, durante horas infinitas. Paralisada. Percorrendo os espaços entre a minha casa, o corredor e as portas das casas dos vizinhos. Expandindo. Sumindo. Construindo e desconstruindo. Como um corpo-ser forte fragilizado.
O primeiro espaço ocupado foi o corredor. Encostei-me na porta da vizinha de frente, aquela de cachos vermelhos que vivia entre os móveis de miniatura de plástico, e descansava no estrado de uma cama de madeira escura. A porta da minha casa estava aberta, e através dela eu conseguia avistar os espelhos quebrados que estavam pendurados na parede do fundo da sala. Já não me reconhecia. As imagens eram recortadas, desconstruídas e reconstruídas. O corpo enrijecia. Imobilidade. Ali permaneci por algumas durações, e nascia um estado de irritação. Fios presos ao varal me impediam de permanecer ereta. Curvada, os galhos ficavam cada vez mais doloridos e pesados.
Encontrei-me pressa aos fios, o corpo completamente enroscado, torcido. E quanto mais eu tentava me soltava, era pressa, engolida por fios brancos. Os fios da moça que cantava fados e quebrava espelhos com um martelo, ela morava na minha sala. Ao movimentar as extremidades de forma lenta e ágil, consegui me liberar, entrando rapidamente na sala de casa, onde me sentia segura.
Dentro de casa o olhar rastreava o ambiente, fazendo o reconhecimento o mais rápido possível para sentir-se a vontade. Necessidade. Na sala árvores solitárias com as quais eu me identifico de certa maneira, espelhos partidos, objetos queimados, milhões de pregos, um varal de lã vermelha e preta com frases e desenhos de cantos do espaço pendurados, e inúmeros círculos desenhados a mão com carvão demarcando pequenas demolições. Meu corpo encolhido no canto voltava a respirar, e eu ajeitava os galhos do rosto com as pontas dos dedos. Ali estavam presentes duas outras pessoas, dançando entre os fios, uma rainha sorridente vendada, e uma moça de olhos transparentes gigantes. Elas não podiam me ver.
Desloquei-me agachada até a porta de casa, me dando conta de que a coluna havia tomado uma forma absurdamente curva, como um felino quando vai dar o bote para se defender. Recuei quando percebi algo ou alguém no corredor de cócoras, cavando o barro com as unhas longas e afiadas, uma mistura de pessoa com longos cabelos cobrindo o rosto e um bode. Era feroz e podia atacar a qualquer momento, amedrontava-me. Medo da Carolina. Medo de mim mesma. Medo do que pudesse acontecer. Medo de me movimentar. Medo de um estado interno de quase violência. Agressivo e frágil ao mesmo tempo. Contraditório e irreconhecível, como uma criatura meio minotauro meio centauro.
Ao notarem a minha presença, as pessoas felizes sumiram, afinal de contas, eu era um ser desconhecido. Comecei a bater os cascos nas tábuas de madeira da sala, com o intuito de demarcar território e afastar a mulher-bode, punindo-a, me punindo, como quando ela bateu com força as costelas na parede, emitindo um som agudo e cortante. Estado de repetição. Um som estridente ecoava por todo o espaço. Cacos de espelhos espalhados. Agora sim era o momento do enfrentamento. Agachei-me no barro ao seu lado, e penetrei os galhos da minha cabeça em sua cabeça, com força. Ela não podia enxergar, mas quebrou uma parte dos meus galhos. Senti dor. Alguns fiapos caíram dentro dos meus olhos, quando reconheci que se tratava da pessoa que morava no meu quarto, aquele no qual eu nunca entrava sozinha. Na parede tinha um armário com cordas e terra caía das gavetas. Silhuetas de pregos e velas presas às paredes. Lugar sujo e bagunçado. Afastei-me.
No corredor, em frente à porta do vizinho que escondia o rosto atrás de um capacete, havia uma mulher sem face, com cabeça de saco de papel marrom, que caminhava incessantemente de um lado para o outro. Voava ao seu redor, próxima a janela azul, a moça de olhos gigantes transparentes. Eu apenas observava como se fosse um ritual, ao mesmo tempo em que procurava controlar possíveis impulsos de movimentos arriscados.
Na porta de casa, Patrícia, ex-moradora, enforcava-se pendurada na janela, rodeada por inúmeras enforcadas. Talvez filha de Odair, ela tinha apenas 11 anos em 1995, 16 anos atrás, segundo contas, cadernos, diários e outros rastros encontrados por nós, os moradores atuais, nos armários mofados do banheiro. Iniciava-se um fado, cantado pela mulher da minha sala. E então eu fui me aproximando. Parecia que depois das mortes, o ambiente voltava a estabilizar-se. Vizinhos e visitantes em um estado de encantamento observavam a cantoria. Calma. Neblina.
Quase que hipnotizada voltei a entrar na sala de casa, mas possuída imediatamente por uma fúria, quebrava partes dos meus próprios galhos com as mãos, era como que cortar não as unhas, mas as pontinhas dos dedos, rasgando camadas de peles escondidas. Desnudar-se. Pressionei parte no pescoço e ao redor da clavícula esquerda, deixando arranhões. Vidros eram quebrados próximos ao meu rosto pela mulher dos fados, que já não mais cantava. Movimento de rachar o chão com os ossos dos pés. Exausta, me sentei em suas costas, puxando com as mãos seus cabelos, ela havia se transformado em um cavalo manso. Abraçou-me, e meu corpo desfez-se, envolvendo-a carinhosamente numa dança de gestos pequenos e sutis, e o olhar fixo diante das imagens dos poucos espelhos que restaram na parede ao fundo. Reconhecia-me.
Quando inesperadamente, notei parada no batente da porta impedindo a passagem, a criatura bode. Perseguia-me, mas antes que voltasse a atacar, fugi para a cozinha, onde eu realmente morava. Esconderijo. Toca. Na cozinha um balde de ferro, um armário branco com fôrmas de gelos vazias, e pendurado no teto, recordações da minha família. Deite-me ao chão para um longo respiro. Ouvia conversas, cheiros de café fresco e detergente entravam pelas narinas. Estava apegada ao lugar. Apegada aos vizinhos, aqueles que ocupavam o espaço ao meu lado, como àqueles que um dia passaram por lá. Talvez. Tudo seria demolido e eu não conseguia dormir. As saudades e a solidão já estavam presentes. Estado esquisito. Permaneço confusa.




20.10.11

Agradecimento Demolições

Postado por Núcleo Cinematográfico de Dança |


Muito legal o movimento de todos e o que rolou ontem nas casinhas, ficamos comovidas!
Aproveitamos para agradecer e parabenizar o Núcleo de Garagem mais uma vez pela maravilhosa iniciativa, e agradecer imensamente Mônica, Carol, Fabi, e Andréa pela força com essa produção. Agradecer a Cuca por compartilhar esse espaço com todos.  O movimento todo de vocês foi fundamental para a presença do 16 mulheres e 1/2 na ocupação das casinhas...Muito agradecidas também a todos pela disponibilidade ontem lá no espaço, pela entrega, pelas criações efêmeras, enfim...gracias gracias gracias a TODOS!!!!Em breve postaremos o vídeo.

Maristela e Mariana

12.10.11

Demolições

Postado por Núcleo Cinematográfico de Dança |

O 16 mulheres e 1/2 foi convidado pelo Núcleo de Garagem e Cuca dias a participar de uma residência artística em casas que serão demolidas.








A Casa da Purpurina é uma ocupação temporária que está sendo realizada durante este mês de outubro.

São várias iniciativas artísticas movidas em um espaço, uma pequena vila com 7 casinhas, que será demolido na Vila Madalena.

"Por esta brecha nos embricamos e fomos nos reunindo pelo simples desejo de habitar, 
ainda que rápido, 
ainda que sobre a corda bamba, 
ainda que na precariedade. 

No trânsito transitório em meio à ameça do escombro." (Núcleo de Garagem e Cuca Dias)

11.10.11

Controle

Postado por Núcleo Cinematográfico de Dança |

por Mariana Sucupira

Desde o começo do semestre passado, venho tentando trabalhar com um procedimento de acúmulos, adicionando camada sobre camada de cada um dos materiais investigados. A mesma célula vem se transformando a cada encontro, deixando passar alguns fragmentos  - porque não quero, ou me esqueço - somando outros, somando de outros. Agora tenho uma célula "pinball-esfenóide-espaço-câmera-subjetiva-movimentos dos outros-palavras-desenhos-objeto-banco".  A retomada do trabalho com os "objetos faciais", no entanto,  tem sido interessante, porém bastante desafiadora para mim. Se não me encontro mais naquele lugar, para onde ir agora?  O objeto era para mim a representação de uma aceitação, transparência e nào necessidade de controle (veja bem: isso é diferente de descontrole!!). Então pensado nessa coisa do controle/ não controle/ descontrole, me lembrei de um vídeo que vi há pouco tempo e gostaria de compartilhar....Para quebrar um pouco o lirismo que às vezes percorre o blog, ou as pesquisas....Enfim, é sobre o rosto sem controle....

Veja nessa ordem:





7.10.11

Retorno ao Rosto e à Cortázar 2

Postado por 16 mulheres e 1/2 |

Retorno ao Rosto e à Cortázar 2
ou O Não Reconhecimento


mais um conto, mais um Cortázar, e a sensação de reconhecer-me qual um cronópio.


A foto saiu fora de foco

Um cronópio vai abrir a porta da rua e ao enfiar a mão no bolso para pegar a chave, o que tirá é uma caixa de fósforos; então este cronópio fica muito aflito e começa a pensar que se em vez da chave ele encontra os fósforos, seria terrível que o mundo se houvesse deslocado de repente, e então se os fósforos estão no lugar da chave, pode acontecer que ele ache a carteira de dinheiro cheia de fósforos, e o açucareiro cheio de dinheiro, e o piano cheio de açúcar, e o catálogo do telefone cheio de música, e o armário cheio de assinantes, e a cama cheia de roupas, e as jarras cheias de lençóis, e os bondes cheios de rosas, e os campos cheios de bondes. Assim, o cronópio fica horrívelmente aflito e corre para se olhar no espelho, mas como o espelho está um pouco de lado, o que ele enxerga é o porta-guarda-chuvas do vestíbulo, e suas desconfianças se confirmam e ele desata a soluçar, cai de joelhos e junta suas mãozinhas nem sabe pra quê. Os famas vizinhos acodem para consolá-lo, e também as esperanças, mas passa-se muito tempo antes de que o cronópio saia de seu desespero e aceite uma xícara de chá, que olha e examina muito antes de beber, não vá acontecer que em lugar de uma xícara de chá seja um formigueiro ou um livro de Samuel Smiles.

7.10.11

Retorno ao Rosto e à Cortázar 1

Postado por 16 mulheres e 1/2 |

Retorno ao Rosto e à Cortazar 1
ou Ainda Bem que Agora Eu Não Tenho Cabeça

Decidi voltar a ler os contos de Histórias de Cronópios e de Famas de Julio Cortázar. Na mesma época em nossos encontros, retornamos ao nosso rosto. Ao nosso objeto-rosto, rosto-coisa. Foi estranho e confuso essa máscara e não, caos, buraco dentro. Cortázar retumbou dentro, certeiro e junto. Caiu como uma luva na mão que nem sei se tenho ou qual a forma... eis...

Acefalia
Julio Cortázar

Cortaram a cabeça de um certo senhor, mas como depois estourou uma greve e não puderam enterrá-lo, esse senhor teve que continuar vivendo sem cabeça e arranjar-se bem ou mal.
Em seguida ele notou que quatro dos cinco sentidos tinham ido embora com a cabeça. Dotado somente de tato, mas cheio de boa vontade, sentou-se num banco da Praça Lavelle e tocava uma por uma as folhas das árvores, tentando destinguí-las e dar os respectivos nomes. Assim, depois de vários dias, pode ter a certeza de que havia juntado em seus joelhos uma folha de eucalipto, uma de plátano, uma de magnólia e uma pedrinha verde.
Quando o senhor percebeu que esta última era uma pedra verde, passou uns dias na maior perplexidade. Pedra era correto e possível, mas não verde. Para experimentar, imaginou que a pedra era vermelha, e no mesmo momento sentiu uma profunda repulsa, uma resistência a essa mentira flagrante de uma pedra vermelha absolutamente falsa, já que a pedra era completamente verde e em forma de disco, muito suave ao tato.
Quando percebeu que além do mais a pedra era suave, o senhor passou algum tempo tomado de grande surpresa. Depois optou pela alegria, o que é sempre preferível, pois se notava que à semelhança de determinados insetos que regeneram suas partes cortadas, era capaz de sentir diversamente. Estimulado pelo fato, abandonou o banco da praça e desceu a rua Libertad até a avenida de Mayo, onde como se sabe proliferam as frituras oriundas dos restaurantes espanhóis. Informado deste detalhe que lhe restituía um novo sentido, o senhor se encaminhou vagamente em direção ao leste ou ao oeste, pois disso não estava certo, e foi infatigável, esperando, de um momento a outro, ouvir alguma coisa, já que o ouvido era a única coisa que lhe faltava. De fato enxergava um céu pálido como o de amanhecer, tocava suas próprias mãos com os dedos úmidos de seu suor, e um gosto de metal e de conhaque na boca. Só lhe faltava ouvir e então ouviu, e foi como uma lembrança, porque o que ouvia era de novo as palavras do capelão do cárcere, palavras de conforto e de esperança, muito bonitas em si, pena que com certo ar de usadas, de ditas muitas vezes, de gastas à força de soar e ressoar.
.
.
.

Finalizo com essa música de Arnaldo e suspiro, ainda bem que agora eu não tenho cabeça!


11.8.11

.... ..... .... ... ..... ... .... .....

Postado por 16 mulheres e 1/2 |

por Monica Lopes

Ontem andei pensando, dias de chuva me fazem pensar, e me trazem um conforto, uma suavidade. Em se tratando de tempestades é diferente, a sensação é de quebra, conflito; como um trincar de vidro; algo inesperado, as vezes incômodo. Não só pela impressão de ter que consertar algo, mas as vezes o aborrecimento pelo som agudo, o estalo do trincar; ou ainda um estado de surpresa ou susto. Mas mesmo na tempestade há um conforto, algo que traz um alívio e uma percepção de integridade, unidade.

Talvez seja esta a síntese do semestre passado. Uma sensação de quebra, choque, ruptura; um estilhaçar por dentro; surpresas, sobressaltos. Mas havia algo de coeso, um núcleo; um núcleo multifocal, que disparava para todas as direções. A ruptura surgia do encontro com outros universos de corpo e de pensamento no mover, e destes encontros despontava infinitas possibilidades de desenho e espacialidades.

... núcleo que trinca e espalha ...

... em si um abismo se movendo... em trânsito ... passagem ...

Questões: ?? Como explodir e se manter coeso? /Como fluir sem estancar?/ como transformar, deixar mudar e expandir sem perder a essência do sentido do que se criou??

"O vento levantou-se... Primeiro era como a voz de um vácuo... um soprar no espaço para dentro de um buraco, uma falta no silêncio do ar. Depois ergueu-se um soluço, um soluço do fundo do mundo, o sentir que tremiam vidraças e que era realmente ventos. Depois soou mais alto, urro surdo, um chorar sem ser ante o aumentar noturno, um ranger de coisas, um cair de bocados, um átomo de fim do mundo. Depois, parecia que..." [Fernando Pessoa, Livro do Desassossego]

Encontrei uma música que sintetiza esta sensação e queria compartilhar - Core Chant de Meredith Monk.

Core: nucleo, cerne, âmago, caroço, miolo, medula parte central
Chant: canto, cântico, salmo, entoar cântico.

... um "canto coletivo" era a dança de cada um - revirada, remexida, enviesada, atravessada por diversos universos - mas que, no entanto, nascia de um cerne único, um miolo esfenoidal.

"Tudo se me evapora. A minha vida inteira, as minhas recordações, a minha imaginação e o que contém, a minha personalidade, tudo se me evapora. Continuamente sinto que fui outro, que senti outro, que pensei outro. Aquilo a que assisto é um espetáculo com outro cenário. E aquilo que assisto sou eu." [Fernando Pessoa, Livro do Desassossego].


5.8.11

reverberações.3

Postado por 16 mulheres e 1/2 |

em nossa pequena pausa de duas semanas sem encontros, estive no Rio de Janeiro. louco quando se está envolvido em um trabalho, que tudo ao redor parece querer te dizer de novo as mesmas poéticas numa insistência temática e retórica. como se o mundo se configurasse todo nas mesmas metáforas, nos mesmos indícios de sentido ou perda de sentido... nesse período no Rio, em uma mostra sobre a estética punk e pós-punk, me deparo com David Wojnarowicz e sua obra Rimbaud em Nova Iorque. Várias coisas de seu trabalho me deixaram atônita e me fizeram retomar em experiência uma vez mais nossas pesquisas.

quando você percebe no rosto do outro o seu. quando um rosto cataliza outros rostos em sua semelhança. quando um trabalho de um artista te espelha tanto que te engole tanto que o rosto dele se cola ao seu. quando a sociedade te imprime um rosto a despeito do seu desejo ou consciência. quando.










eis David. o primeiro homem a invadir minhas reflexões nesse blog.

5.8.11

reverberações.2

Postado por 16 mulheres e 1/2 |

sigo ainda um pouco no que ainda vibra do semestre passado. eu sem rosto. sem me reconhecer com um rosto. sem ter uma dança cujo rosto eu reconheça. penso em cabelos ao invés de rosto. cabelos loiros que nem são como os meus, em verdade castanhos. mais uma vez, francesca woodman me bate à porta. mais uma vez.

15.7.11

reverberações.1

Postado por 16 mulheres e 1/2 |

Por Carolina

muito anda me atravessando. atravessando. atravesso sensações do muito que chicoteou em meu peito esse semestre. e é muito. vou aos poucos irem saindo de mim algumas imagens, algumas sensações, algumas atmosferas. quero deixar que elas vazem para fora. saiam a buscar espaços seus. fora de mim.

por hoje, volto a Hilda Hilst. um trecho de A Obscena Senhora D.

(...) abro a janela nuns urros compassados, espalho roucos palavrões, giro as órbitas atrás da máscara, não lhes falei que recorto uns ovais feitos de estopa, ajusto-os na cara e desenho sobrancelhas negras, olhos, bocas brancas abertas? Há máscaras de focinhez e espinhos amarelos (canudos de papelão, pintados pregos), há uma máscara de ferrugem e esterco, a boca cheia de dentes, há uma desastrada lembrança de mim mesma, alguém- mulher querendo compreender a penumbra, a crueldade - quadrados negros pontilhados de negro - alguém-mulher caminhando levíssima entre as gentes, olhando fixamente as caras, detendo-se no aquoso das córneas, no maldito brilho
Hillé, andam estranhando teu jeito de olhar
que jeito? você sabe é que não compreendo
não compreende o quê?
não compreendo o olho, e tento chegar perto. Também não compreendo o corpo, essa armadilha, nem a sangrenta lógica dos dias, nem os rostos que me olham nesta vila onde moro, o que é casa, conceito, o que são as pernas, o que é ir e vir, para onde Ehud, o que são essas senhoras velhas, os ganidos da infância, os homens curvos, o que pensam de si mesmos os tolos, as crianças, o que é pensar, o que é nítido, sonoro, o que é som, trinado, urro, grito, o que é asa hen? Lixo as unhas no escuro, escuto, estou encostada à parede no vão da escada, escuto-me a mim mesma, há uns vivos lá dentro além da palavra, expressam-se mas não compreendo, pulsam, respiram, há um código no centro, um grande umbigo, dilata-se, tenta falar comigo, espio-me curvada, winds flowers astonished birds, my name is Hillé, mein name madame D, Ehud is my husband, mio marito, mi hombre, o que é um homem?

25.6.11

Qual é a MARIPOSA por trás de mim?

Postado por 16 mulheres e 1/2 |



Eixo transversal que me atravessa como uma bacia em meu crânio, que me gera uma presença particular, que me define a partir do meu olhar, fazendo me presente num relacionar do interno e externo, num mesmo momento.

Mariposa esfenoidal que habita o centro das minhas idéias, tu flutua e plaina num ar quase rarefeito que me direciona num vai e vem, num cima e baixo que me norteia e me desnorteia instantaneamente na linha do tempo e do espaço.

Oitavo osso da minha cabeça, tu perfura o espaço tão claramente que seu planar e seu pouso deixam rastros definidos e estabelecem linhas de tensão e fluxos de ir e vir, que muitas vezes, eu simplesmente só consigo te seguir.

Quando não tenho tanta energia para lhe oferecer tu carrega meu peso quase que me abandonando e me desmantelando mas no fim sempre acabo nos levitando. Na verdade eu ainda não entendo muito bem minha mariposa: eu carrego você ou você me carrega?

É uma questão....


Ilana Elkis

21.6.11

estado de presença

Postado por 16 mulheres e 1/2 |

Por Juliana Gennari


Ao (re)visitar o esfenóide uma série de explosões sucessivas, realizadas de tal modo que o desmoronamento por elas causado tende a concentrar-se num ponto central me:

Ancorando

Apoiando

E arremessando

em diferentes direções do espaço dentro, fora e entre esfenóides (?).

Um espaço preenchido de imagens e sensações, de afetos e desafetos onde a relação do "corpo esfenoidal" com o espaço físico e o imaginário desenham expressivamente o percurso habitado permitindo-se implodir ou explodir (?)

O permear entre esses territóreos e a projeção espacial a paritr desses, gerou uma dança. E naquele momento o que mais importava era o estado de presença, o ser e estar no esfenóide.

O trabalho do performer Tony Orrico me conquistou pelo estado de presença. O poder do estado de presença.


Esse vídeo é uma de suas performances..

19.6.11

espreita

Postado por 16 mulheres e 1/2 |

por Carolina Nóbrega



O esfenóide, animal a espreita dentro do crânio. Se fosse mesmo um animal, o osso ao redor dos olhos seriam a saida da toca. Meus olhos, não mais meus olhos, mas os olhos desse animal, esfenóide, a espreita. Animal irriquieto a se mover dentro do crâneo em múltiplas direções... o crâneo é o esconderijo.


O animal observa... as vezes ataca e alça pequenos vôos para fora, plana no espaço, abre suas asas. Depois retorna, para dentro da cabeça, e observa, ele quer saber tudo, por todos os ângulos, se interessa por todas as coisas. As vezes o crâneo parece o aprisionar... ele imprime multiplas linhas pra fora até pressionar a cabeça para novamente dar seus saltos. Ele carrega meu corpo com ele, ele implode meu corpo de dentro, e ele vai em múltiplas direções. Ele não me dá descanço. Difícil pedir a ele silêncio e que se mantenha quieto em sua morada. Ele quer sair. Ele quer sair sempre mais e para todos os lados. Perco o sono por conta desse animal ósseo.

e mais uma vez, Rebecca Horn.

19.6.11

Atravessamentos

Postado por 16 mulheres e 1/2 |

por Carolina Nóbrega

aqui retomo um procedimento que fizemos, no qual deitávamos sobre um bastão e depois nos movíamos através dele, como um eixo duplicado, um espelho ou um outro, para depois irmos ao movimento. também o trabalho de segurar a barra, os braços que se desenham a partir da relação com a barra, a moldura.

...a presença de uma linha física (bastão, barra) externa ao corpo inaugura um novo corpo, que se apoia em linhas para estar no espaço, que rasgam diagonais dentro do seu corpo...



num primeiro momento, lembrei-me de Frida Kahlo, que quando tinha 18 anos, sofreu um acidente de ônibus no qual o para-choque atravessou seu corpo, perfurou suas costas, atravessou sua pelves e saiu pela vagina. um atravessamento brutal de uma barra, uma lança, uma linha.


as marcas desse atravessamento no corpo se exteriorizaram em suas obras. vetores de dor, direcionamentos impostos a seu corpo que transformaram toda sua possibilidade de existir no mundo.

...dessas imagens fe Frida, veio-me também essa fotografia específica de Francesca Woodman. o duplo da coluna. a espinha que se separa do corpo. reconhecimento da espinha e da sombra:


e por fim, também lembrei-me de Rebecca Horn e sua pesquisa de prolongar as linhas do corpo, inaugurando novos espaços, ou tornando o espaço mais visível, ou tornando mais visível o desenho do corpo no espaço, tornando evidente que há desenho no existir, que há desenho no deslocar do corpo no espaço.









por mais diferentes que sejam os trabalhos dessas artistas, em todos reconheci essa presença de um atravessamento de linhas, que relacionam o espaço de dentro e com o espaço de fora do corpo... reconheci nessas imagens algo que trafeguei durante os improvisos a partir das barras... cortes no meu eixo, projeções espaciais, diagonais, linhas de apoio ou de desequilíbrio, que me obrigaram a um jogo espacial de desenhos.

10.6.11

Visor 3D!!

Postado por 16 mulheres e 1/2 |


por Monica Lopes

Ontem uma quietude me envolveu e trouxe uma sensação de tridimensionalidade no espaço. Eu via o espaço por todos os ângulos olhando pelo esfenóide.
O esfenóide era meus olhos, uma máscara, um visor. Na verdade minha visão se expandia por todo o corpo a partir do esfenóide. Um visor ultra moderno que via o espaço em 3D ou multidimensional. Muitas dimensões e direções no espaço. E eu podia ver o espaço através dele, ele me possibilitava ampliar minha visão do espaço. E eu tinha olhos nas costas. Tinha olhos por todos os ângulos, olhos por todo o corpo. Estes olhos eram como poros... que se abriam e deixavam escapar, desprender um jorro pelo espaço. Este jorro tinha sua origem no esfenóide. Havia algo que me sacudia, e esse algo vinha do centro da cabeça. E deste centro jorrava e escapava pelo espaço múltiplas linhas e desenhos e rabiscos....







9.6.11

esfenoide oide oide

Postado por 16 mulheres e 1/2 |



por Josefa Pereira

8.6.11

<- ...* (.) ... ->

Postado por 16 mulheres e 1/2 |

por Marília Coelho



(.) não acredito que eu possa ter o controle (.)
controlar soa um não sincero pra mim
.forçar.

só quero me permitir deixar a gravidade, ou o vento, tocar
<- e meu livre arbítrio é quem dita as direções ->

- com coração aberto, que permite a sinceridade da dança (...)

e é ali que sinto a suspensão*
...e quanto mais me aterro, mais suspendo o tempo/espaço...

_estando sobre ou fora do chão_


...fluindo, fluindo na contra-mão...


(...)

3.6.11

Um Infinito no Peito

Postado por 16 mulheres e 1/2 |

por Carolina Nóbrega

Retomo aqui um trabalho que fizemos há alguns encontros atrás. De desenhar em movimento o oito na coluna... um oito que bate e entra nos ossos... e avança costelas em infinito no espaço... levando braços em infinito também... e avança bacia em infinito no espaço... levando pernas em infinito também... o meu centro e os meus afluentes. O trabalho me trouxe a sensação de amplidão e paisagem, integração com o espaço, mas não uma integração necessariamente gostosa (certamente não passiva): Uma integração que exigiu de mim um trabalho árduo, quase agressivo, pulmonar, cardíaco... que me rasgou numa espécie de ampliamento multidirecional, um fazer parte, um compor... transformar o entorno, numa amplidão quase inumana só possível a montanhas, ou cachoeiras... em suas sinuosas e resistentes transformações/imposições na relação com o tempo/espaço.

Voltou-me, ricocheteando peito a dentro, física e inevitavelmente, um poema de Hilda Hilst que me acompanha desde anos...:

Costuro o infinito sobre o peito.
E no entanto sou água fugidia e amarga.
E sou crível e antiga como aquilo que vês:
Pedras, frontões no Todo inamovível.
Terrena, me adivinho montanha algumas vezes.
Recente, inumana, inexprimível
Costuro o infinito sobre o peito
Como aqueles que amam.

2.6.11

Explosão

Postado por Núcleo Cinematográfico de Dança |

por Mariana Sucupira

Olhar de novo para uma pequena parte do corpo é sempre distinto. Mudam as células, muda meu estado de ser/ estar no mundo. Mas quase sempre a investigação do movimento a partir do esfenóide me leva pelo mesmo caminho.

O esfenóide me parece, geotopograficamente falando, um dos ossos mais complexos do corpo, se não o mais. A sua formação em múltiplas direções espaciais me traz um sensação de explosão. O esfenóide é um osso explodido. E essa metáfora reverbera no corpo tanto como o impulso/pulso de uma explosão (implosão?), como as direções da dança no espaço. E de repente, em um determinado momento, tudo parece ficar em um estado de suspensão.

Ano passado revi essa cena do filme Zabriskie Point, do Antonioni e, por enquanto, é o jeito mais concreto que consigo ilustrar essa sensação...


2.6.11

Registro ou criação?

Postado por 16 mulheres e 1/2 |

por Monica Lopes


A minha relação com o traço e desenho de movimento nasceu da necessidade de registro das imagens corporais devido a uma certa dificuldade de memorização de coreografias e frases de movimento. Surgiu como forma de registro, e com o passar do tempo foi se transformando em procedimento de criação.... ... tornou-se pesquisa de imagens corporais no espaço, desenhos, traços... contínuos ou descontínuos. Se tornou um fio condutor de pesquisa entre a dança, a música e a fotografia.

Linhas imaginárias no corpo, no som, na voz? ... no silêncio, no ruído, no espaço? Como seria uma trilha sonora destas linhas desenhando o espaço? Linhas como desenhos, traços de movimento, fragmentos de intenções, gestos inacabados.

O que é a presença além gesto, movimento desenhado com clareza dentro e fora do corpo? Imagem corporal como desenho, traço...




2.6.11

Esfenóide, o retorno!

Postado por 16 mulheres e 1/2 |

por Monica Lopes


Um desafio retornar a este "lugar", esta qualidade corporal e estado que é despertada ao pesquisar o esfenóide - este ossinho no centro do crânio - para o movimento.
A relação com o espaço é ampla, não há foco nos olhos, eu vejo imagens desfocadas.
Existem borrões e imagens no espaço.

E a força deste estado corporal?
Um turbilhão de imagens, sensações, emoções desencadeadas quase simultâneas que afloram e pairam no ar, no espaço.
Uma dificuldade de dar tempo para cada imagem ser criada, antes de nascer outra e outra ... e outra.
Surgem imagens como a de furacões ou de vulcões, talvez pela força ou pelo desenho no espaço: de dentro da Terra para fora, ou desenhos em espiral.

Coreô costelas + esfenóide : "Costenóide"

31.5.11

Quebra-cabeça

Postado por Núcleo Cinematográfico de Dança |

por Mariana Sucupira


Conversas sobre procedimentos de criação...

às vezes me pergunto como consigo trabalhar com criação. gosto de ter controle das coisas, das horas, das situações. a criação é qualquer coisa menos controle. então acho que meu procedimento é assim: um quebra-cabeça que não conheço a imagem, e fico, ensandecidamente tentando encaixar cada peça. até quando desisto, e elas se encaixam sozinhas.

27.5.11

Quem

Postado por Núcleo Cinematográfico de Dança |



Quem vem junto:











Carolina Nóbrega

Por um desajuste institucional vivido durante minha formação em Artes Cênicas, decidi viajar sem destino certo pelo nordeste do país. Nesse contexto me aproximei de uma arte menos institucionalizada, dançada na rua, de homens e mulheres que gritavam para fora verdades físicas. A partir disso me interessei pela performance, pela intervenção e, junto com outros parceiros, fundei o Grupo do Trecho (grupodotrecho.ato.com) e (grupodotrecho.blogspot.com). Desse trabalho, fui aprofundando uma pesquisa pessoal corporal em dança que contrasta a ancestralidade e o espaço urbano, bastante inspirado pelo trabalho da artista plástica Ana Mendieta.











Clara Gouvêa

Sou pesquisadora, criadora e professora de dança. Bacharel e licenciada em dança pela Unicamp. Meus focos de interesse estão mais presentes na relação com o movimento com as suas intensidades e imagens, na dramaturgia que se inscreve no corpo, na improvisação, composição e presença cênica. Atualmente sou integrante da Cia Damas em Trânsito e os Bucaneiros, e parceira do Núcleo Cinematográfico de Dança e da Balangandança Cia. Para mim é enriquecedor fazer novas parcerias com artistas e coletivos que tenham questões que me instigam como intérprete e criadora.














Fabiane Carneiro

Transito entre a dança, a arquitetura e o urbano. Questões como o desenho, a construção e a ocupação do espaço me interessam muito. Seja através do corpo, do elemento construído ou da imagem. As pesquisas em Laban, assim como estudos de coordenação motora e técnicas de educação somáticas amparam esse transitar. Atualmente meu foco sobre essas questões está na relação entre o espaço externo e o interno, não só como dualidade, mas também como unicidade e cooperação.










Ilana Elkis

Brasileira, sexo feminino, cabelos e olhos castanhos, netas de judeus ucranianos e tataraneta de italianos. Nascida em São Paulo na Avenida Paulista no dia 1 de julho de 1982, ás 2:34 a.m. Profissão: Artista emergente, intérprete emergente, criadora emergente, gestora emergente, e ainda talvez, bióloga e pesquisadora do corpo vivo. Pernas curtas, pequena, magrela e cabeluda, se confunde espacialmente com direita e esquerda e ultimamente insiste em pesquisar fisicalidades a partir dos sistemas arterial e nervoso. Insiste em cavoucar essas qualidades e estados separadamente, e de quando em vez, de maneiras híbridas, como camadas sobrepostas em sua fisicalidade. Atualmente se ocupa em experimentar um corpo que transita entre desenhos definidos, rascunhos e borrões e que se auto observa em sua propria praxis reparando e organizando suas emergencias










Julia Santos


Ligada em despropósitos como toda boa aquariana, sempre quis peneirar água com a peneira. Num desses despropósitos, eu, que sempre fui do movimento, encontrei na dança uma forma de transver o mundo. Adoro pular carnaval e como grande brincante da vida, não demorou para que eu chegasse nas danças populares brasileiras e, contaminada pelo vírus da possibilidade de criação, cheguei na dança contemporânea. No momento, são muitos os despropósitos da dança que me interessam mas ando muito ligada em experienciar e propiciar aos meus alunos e vocacionados (dou aula de dança contemporânea e brasileira à crianças e adolescentes e sou artista orientadora de dança do Programa Vocacional) diferentes procedimentos de criação em dança(s) sejam ela (s) contemporânea, brasileira, ou talvez, uma dança contemporânea brasileira ou ainda uma dança brasileira contemporânea(?). Com ascendente em Gêmeos, a dúvida também sempre me acompanhou!









Juliana Gennari

A fotografia é a ferramenta que encontrei para registrar e revelar meu olhar perante a vida e a dança, o veículo de expressar a existência. Minha pesquisa parte da relação íntima entre os dois universos: o corpo fotográfico. Atualmente, participo de dois núcleos: o Limiar - núcleo de pesquisa entre dança, música e fotografia: nucleolimiar.blogspot.com e a Cia. da Estrela – núcleo de intervenções urbanas: ciadaestrela.blogspot.com.










Mariana Sucupira


Existem dois aspectos que me guiam na vida: um ligado à curiosidade, o outro, à invenção. Por enquanto, uso isso nos meus trabalhos de dança, teatro e performance, e também, cinema e vídeo, principalmente em parceria com grupos, coletivos, companhias ou pessoas legais. Mas ainda tenho desejo de ser arquiteta, detetive e neurocientista.






Maristela Estrela

Vivo traçando caminhos e linhas de fuga entre impossibilidades e possibilidades, em busca do inesperado. Um turbilhão dentro e fora, inalando e exalando maneiras de ver, ouvir, sentir e provocar o movimento. Em auto-movimento. Sou formada em dança pela Universidade Anhembi Morumbi e profissional desde 1989. Passei por escolas e mestres em São Paulo que dedicavam-se a somar arte e ciência como suporte à formação do criador-intérprete. Integro como criadora-intérprete as cias: Cia. Oito Nova Dança (desde 2001) e Balangandança Cia. (desde 2006). Integrei o espetáculo “Antes da Queda” com direção de Juliana Moraes e o processo de criação do espetáculo “(Depois) de Antes da Queda. Sou co-fundadora do Núcleo Cinematográfico de Dança, onde desenvolvo desde 2002 uma pesquisa entre cinema e dança e atuo como co-diretora e criadora-intérprete. Entre 2002 e 2006 fui professora no Estúdio Nova Dança. Desde 2007 dou continuidade ao ensino e criação em dança contemporânea na Sala Crisantempo, em São Paulo. Oriento o grupo 16 Mulheres e 1/2 em reflexões, práticas e criação sobre dança contemporânea - pelo Núcleo Cinematográfico de Dança.








Mônica Lopes



Minha pesquisa se refere a relação entre a dança e a música, a voz e a dança contemporânea. Neste momento ando particularmente interessada na pesquisa de imagens corporais como desenhos, traços de linhas, que se fazem dentro e fora do corpo - através da relação entre a dança e a fotografia. Participo atualmente de dois núcleos: o Limiar - núcleo de pesquisa entre dança, música e fotografia: nucleolimiar.blogspot.com e a Cia. da Estrela – núcleo de intervenções urbanas: ciadaestrela.blogspot.com




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Quem já esteve junto: 














Alexandre Medeiros

Sou Mestre em Comunicação e Semiótica, 2009, e bacharel com habilitação em teatro e dança pelo curso Comunicação das Artes do Corpo, 2003, ambos pela PUC/SP. Desde 2000 atuo também com a linguagem artística de palhaço e com teatro de bonecos desde 2006. Tenho interesse na pesquisa de um corpo apoiado no Brincar e nas relações em que a memória corporal desde a infância é material para jogar e criar imagens, movimentos, sensações, emoções e poesia.














Andrea Mendonça

Vindo de uma formação que mescla cinema e dança, minha pesquisa parte do diálogo entre essas duas linguagens. Neste momento estudo árvores solitárias, texturas de raízes, solidão e espaço, a partir da estética do iraniano Abbas Kiarostami e sua poética do deslocamento, interessando-me pelas possibilidades de movimentos que partem das articulações, da coluna e escápulas até ultrapassar as extremidades do corpo.








Elen Minhoto

Formada em Serviço Social pela PUC-SP. Iniciou a Faculdade de Dança e Movimento da Universidade Anhembi Morumbi, além de estudar em cursos livres de dança. Em outubro de 2009 participou da criação do espetáculo Desevolução, que foi apresentado no Projeto Primeiro Passo do SESCSP Pompéia. Foi integrante do grupo de improvisação dança-teatro Silenciosas durante 3 anos. Em maio de 2011 participou do espetáculo Área Reescrita da J.Gar.Cia Dança Contemporânea, que foi apresentado no Centro Cultural São Paulo. Atualmente irá realizar um trabalho junto com a Cia Damas em Trânsito e os Bucaneiros.









Isis Marks

Fui seduzida pela dança ao percebê-la como meio de reconhecimento e transformação da condição de existir. Tento ver o que se esconde e sou constantemente motivada pela expectativa de habitar um lugar novo dentro de um mesmo habitat, o corpo. Universo infinito se abriu. Sou agora motivada pela ideia de transmitir essa possibilidade para além de mim e entender os processos intrínsecos às experiências corporais como forma de fazer da dança, arte.












Josefa Pereira

Josefa Pereira caminha sempre em algum lugar entre tensão e distensão, e assim vai descobrindo formas interessantes de estar. Um bom exemplo é quando se lembra da importância de um abraço, um sorriso, ou qualquer outro tipo de trégua que lhe alivia da constante pressão gravitacional entre corpos. Sente grande prazer na contradição. Tem buscado se inspirar em coisas simples, bobas e banais ainda que como retórica de seu discurso conceitual, por vezes, desarticulado de sua prática desorientada em meio a uma enormidade de vetores.Gosta de lembrar da frase: "Tentando chafurdar nos tempos em que porcos sentem fobia de lama".







Marília Coelho


Sou hiperativa e entusiasta. Tento fazer da minha vida o meu trabalho, tento não ser mais uma pedra de concreto em São Paulo e tento andar de skate (o que me inspira muito a me mover). Tenho esperança de um mundo melhor e escolhi agir começando por mim mesma! Mais sobre minha dança: senteovento.com